sexta-feira, 16 de março de 2007
Elements (Anthology 1968-2005) - Ken Hensley
Reconhecidamente a principal força-motriz da banda inglesa Uriah Heep nos seus anos de glória, o tecladista, guitarrista, vocalista, compositor e letrista Ken Hensley sempre foi uma máquina de música, compondo incessantemente e lançando farto material com todas as bandas das quais participou, além de sua fértil carreira solo. Esta coletânea dupla lançada pela Sanctuary tem o grande mérito de cobrir com sucesso boa parte desse material, nos dando uma boa perspectiva sobre o quão talentoso Hensley sempre foi e ainda é.
O primeiro grupo do qual Ken Hensley participou e que teve algum renome no sensacional celeiro inglês da segunda metade dos anos 60, foi o The Gods. Hensley era não apenas o vocalista e tecladista da banda, como também seu líder e principal compositor. A primeira formação, de 1965, incluía, além de Hensley, o guitarrista Mick Taylor (que mais tarde faria parte do John Mayall’s Bluesbreakers e do Rolling Stones), e os irmãos Brian Glasscock (bateria) e John Glasscock (baixo, mas tarde do Jethro Tull e do Chicken Shack). Em determinado momento, entrou ninguém menos que Greg Lake (mais tarde baixista/guitarrista e vocalista do King Crimson e do Emerson Lake & Palmer). Brian deixou a banda, sendo substituído por Lee Kerslake, e John Glasscock saiu e eventualmente retornou. Com essa formação, chegaram a gravar um single, mas Taylor acabou também saindo por convite de John Mayall. Quem entrou foi Joe Konas, e com a lineup finalmente estabilizada gravaram 2 discos: “Genesis” e “To Samuel A Son”. Do primeiro, está aqui incluída a música “Looking Glass”, que mostra muitos dos ingredientes que fariam parte depois do repertório do próprio Uriah Heep: o uso intenso do órgão Hammond B3 e caixas rotativas Leslie, as harmonias vocais intrincadas, e os arranjos grandiosos (herdados em grande parte do Vanilla Fudge, influência assumida por Hensley).
Um projeto paralelo foi imaginado pelo produtor David Paramor, chamado Head Machine, e apenas um disco lançado: “Orgasm” (onde todas as faixas versavam sobre o mesmo tema, sexo). Desse disco, está incluída a faixa de abertura, “Climax - You Tried To Take It All”, bastante longa para os padrões da época, com vários climas diferentes. A cena era, porém, efervescente e as coisas não paravam de acontecer. Com Hensley assumindo a guitarra e Konas o baixo (mais Kerslake na batera), o The Gods se transformaria eventualmente na banda Toe Fat, de apoio ao vocalista Cliff Bennett, ex-Rebel Rousers. Apenas uma música do disco (homônimo) foi cantada por Hensley (“The Wherefors And The Whys”), mas a opção para inclusão aqui foi “Working Nights” (cantada por Bennett, como todas as demais), certamente por ter feito parte na época do single de promoção do LP. Não demorou muito para Hensley deixar o Toe Fat e se juntar à banda Spice, um quarteto que incluía Mick Box (guitarra), David Byron (vocal), Nigel “Ollie” Ollsson (bateria) e Paul Newton (baixo), e que com sua entrada passou a se chamar Uriah Heep. Nascia então, em dezembro de 1969, um dos ícones do hard rock inglês.
Ken Hensley compôs 90% do material clássico do Heep em sua época de maior sucesso, ou seja, entre 1970 e 1980, quando deixou o grupo. No Heep, Ken tocava principalmente teclados, e seus duelos com Mick Box ao vivo eram lendários. Estão incluídas nessa coletânea faixas dos mais variados estilos, demonstrando toda a versatilidade de Hensley como compositor e letrista de mão cheia, e do próprio Uriah Heep como veículo ideal para colocar em forma de música todas as idéias de Ken. Embora David Byron fosse responsável pelo vocal principal em quase todas as músicas, com Hensley fazendo as harmonias vocais de fundo, é possível se ouvir algumas exceções aqui: “Lady In Black” e “Look At Yourself”, ambas com Hensley no vocal principal. Além disso, em “Tears In My Eyes”, por exemplo, é possível se ouvir as guitarras de Box e Hensley juntas. Tudo isso conferia um grande ecletismo à banda. Por fim, estão ainda incluídas faixas do período no qual o vocalista John Lawton (ex-Lucifer’s Friend) substituiu Byron.
O segundo CD dessa coletânea inclui basicamente uma seleção de faixas dos discos solo de Ken Hensley. O material composto por ele era tanto, e de tamanha qualidade, que em paralelo ao Uriah Heep ele lançou dois excelentes discos solo: “Proud Words On A Dusty Shelf” (1973) e “Eager To Please” (1975). A qualidade das músicas é impressionante, e todas elas poderiam facilmente ter sido incluídas em quaisquer discos do próprio Heep. É impressionante verificar que “Proud Words” foi lançado logo após os clássicos álbuns “Demons And Wizards” e “The Magician’s Birthday”, e logo antes de “Sweet Freedom” e “Wonderworld”. Já “Eager To Please” veio ao mundo à época de discos como “Return To Fantasy” e “High And Mighty”. Logo, foram selecionadas 11 músicas dos 2 álbuns para fazerem parte desse lançamento. Nelas, Hensley faz os vocais principais, e toca todos os teclados e guitarras. Quer dizer, com exceção de “In The Morning”, cover para uma música do Tempest e colaboração do baixista Mark Clarke (ex-Colosseum, Tempest e Uriah Heep), na qual o próprio Mark canta (uma curiosidade: Mark é também quem canta na parte central do clássico “The Wizard”, do Heep, além de tocar baixo).
O terceiro disco solo de Hensley, “Free Spirit” (1980), foi lançado logo após sua saída do Heep. Embora haja boas músicas, como “When”, “Brown Eyed Boy” e “No More” (essa incluída aqui), esse disco mostrou que Ken não passava por um bom momento pessoal, e a gravação sofreu com isso, sendo que esse trabalho não está nem aos pés dos anteriores. Com a mudança de Ken para os EUA, uma mudança inesperada em sua carreira ocorreu: entrou para o grupo de southern rock Blackfoot, que buscava uma mudança de som com a adição de um tecladista. Com eles, Hensley gravou os bons álbuns “Siogo” (melhor) e “Vertical Smiles” (não tão bom), sendo aqui incluída a música “Send Me An Angel”, composta por Ken.
Entre 1985 e 1999, Ken passou por um período de semi-aposentadoria como músico, tendo participado de projetos esporádicos, tocando em discos do WASP, Cinderella, entre outros menos cotados. Em 1999, porém, começou lentamente a esboçar um retorno às atividades que seus ainda numerosos fãs aguardavam esperançosos. Gravou primeiramente o CD “A Glimpse Of Glory” (1999), eclético, mas ainda não resgatando todo o potencial de seus discos mais antigos. Em “Running Blind” (2001), as coisas começaram a melhorar, talvez até pelo fato de Ken ter retornado à Inglaterra. Entre 2000 e 2001, participou do projeto “Hensley Lawton Band”, que contava também com o vocalista John Lawton, e que lançou um CD ao vivo chamado “The Return”. Deste, está incluída a bela balada “I Close My Eyes”, dedicada à atual esposa de Ken, a espanhola Monica. Com ela, por sinal, Hensley se mudou em 2002 para Alicante, na Espanha, onde vive hoje em dia e onde instalou um moderno estúdio de gravação. Entre 2001 e 2002 rodou pela Europa com o grupo Free Spirit, que infelizmente não deixou registro gravado (fora os indefectíveis bootlegs, é claro). O Free Spirit contava com o ótimo guitarrista Dave Kilminster, que fez parte também da Keith Emerson Band e que está hoje na banda de Roger Waters (ou seja, deverá vir tocar no Brasil no próximo ano, se a turnê de Waters for confirmada).
Em seu estúdio em Alicante, Ken gravou alguns de seus mais recentes CDs de estúdio: “The Last Dance” (2003) e Cold Autumn Sunday (2005). Do primeiro foi incluída a sensacional suíte “The Last Dance”, no melhor estilo Uriah Heep, com vários climas, corais, solos chorosos de slide guitar, e um final arrebatador. Do segundo, foi incluída aqui a faixa “Romance”, também muito boa e mostrando que Hensley tem muito ainda a oferecer. Entre os 2 discos, foi gravado na Rússia e lançado pela Sony de lá o CD ”The Wizard’s Diary”, contendo versões para várias músicas do Uriah Heep compostas por Ken. E, agora, Ken está gravando seu mais novo disco de estúdio, “Blood On The Highway”, que irá contar com várias participações bastante especiais nos vocais, com lançamento previsto para 2007.
Conclusão final: trata-se de uma excelente compilação da carreira de Hensley entre 1968 e 2005, com poucas falhas (e só por isso não leva nota 10). A maior delas foi a não inclusão de pelo menos uma faixa do excelente projeto Weed, cujo disco foi originalmente lançado em 1971, quando Hensley já era do Heep (entre os discos “Salisbury” e “Look At Yourself”). Um erro grosseiro também faz parte do tracklisting original, que lista a música “The Last Dance” como sendo “The Return”, provavelmente um equívoco motivado por uma alteração de última hora na escolha das músicas. O encarte é muito bem feito, incluindo entrevista com o próprio Ken Hensley, que comenta a escolha de músicas, faixa a faixa. Não há nada aqui de verdadeiramente inédito (apesar do trabalho de remasterização sonora ser primoroso), mas mesmo assim é um lançamento altamente recomendável!
CD 1 (The Early years and Uriah Heep days)
The Gods (1968)
1. Looking Glass
Head Machine (1970)
2. Climax - You Tried To Take It All
Toe Fat (1970)
3. Working Nights
Uriah Heep (1970 – 1979)
4. The Park
5. Lady In Black
6. Look At Yourself
7. Tears In My Eyes
8. The Wizard
9. Rainbow Demon
10. Sunrise
11. Blind Eye
12. If I Had The Time
13. The Easy Road
14. A Year Or A Day
15. Can’t Keep A Good Band Down
16. Wise Man
17. Free Me
18. Falling In Love
CD 2 (solo material and Blackfoot)
Ken Hensley (1973 – 1980)
1. When Evening Comes
2. From Time To Time
3. Rain
4. Proud Words
5. Fortune
6. Cold Autumn Sunday
7. Eager To Please
8. Secret
9. Through The Eyes Of A Child
10. In The Morning
11. How Shall I Know
12. The System
13. No More
14. New Routine
Blackfoot (1983)
15. Send Me An Angel
Ken Hensley (2000 - 2005)
16. The Last Dance
17. I Close My Eyes (Live)
18. Romance
Site: http://www.ken-hensley.com
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