quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Dois últimos trabalhos do Hirax serão lançados em um único CD no Brasil


A legendária banda norte-americana de thrash metal Hirax vai ter seus dois últimos discos lançados no Brasil nos próximos meses através do selo Kill Again Records, do Distrito Federal. Tratam-se do CD The New Age Of Terror (2004) e do EP Assassins Of War (2007), que sairão no Brasil em formato 2 em 1.

O Hirax conta atualmente em sua formação com o baterista brasileiro Fabrício Ravelli, ex-integrante dos grupos Scars e Harppia.
Segue uma entrevista com a banda;Pela rock brigade:


Ainda estão bem vivos na memória os gloriosos dias do thrash metal nos anos 80. Era uma época em que não apenas os medalhões brilhavam, afinal, também havia espaço para grupos médios fantásticos, como Razor, Dark Angel, Assassin, Blood Feast e Hirax, só para citar alguns. Dessa turma, o Hirax chamava a atenção pela voz potente de Katon W. De Pena, que, aliás, foi o criador do grupo em 1984, na Califórnia.



Depois do auge na metade dos anos 80, Pena deixou a banda em 1989, sendo substituído por alguns meses pelo saudoso Paul Baloff (Exodus). A experiência não durou muito e o Hirax foi fechado num baú por muitos anos, dando sinal de vida apenas em 2003, quando o próprio Pena decidiu reativar o grupo. Do Hirax dos anos 80, só sobraram o nome e o próprio Pena, pois o resto foi todo diferente quando o grupo soltou New Age Of Terror, em 2004. Dois anos depois, mais mudanças: entrou o baterista brasileiro Fabrício Ravelli (ex-Harppia, ex-Scars), o guitarrista Glenn Rogers está meio na base do entra-e-sai e um disco novo intitulado Assassins Of War está no forno.



E é justamente o brasileiro que conta pra RB como comeu o pão que o diabo amassou antes de beliscar a vaga de baterista do Hirax. "Foram tempos difíceis, morando com uma galera que eu nem conhecia direito. Um dia, cheguei em casa e minhas roupas estavam jogadas na rua, pois o cara dizia que via bichos nas minhas roupas e eles estavam rastejando pelas paredes. O cara era esquizofrênico e não sabíamos. Eu cheguei a dormir no carro, pois não tinha lugar para ir", lembra Fabrício Ravelli, sem a menor saudade daqueles dias. "Trabalhei como manobrista, trabalhei com mudanças. Depois, decidi ficar 100% focado em minha carreira, 24 horas por dia. Cheguei a tocar na banda de Neil Turbin [primeiro vocalista do Anthrax]."



Ao saber que o Hirax precisava de um baterista, Ravelli mandou para o grupo material das bandas por onde passou. "Acho que não dormi uns três dias juntando o material para colocar num DVD e mandar para o Katon. Ele gostou, pediu para eu tirar algumas músicas do Hirax e fazer um teste. Uma semana depois eu já estava na banda, fazendo a primeira sessão de fotos de divulgação."



Agora, o brasileiro já está bem entrosado e a banda já começa a preparar seu próximo álbum, que vai se chamar Assassins Of War. "Não é exatamente uma seqüência do The New Age Of Terror, pois a entrada do Lance [Harrinson, guitarrista] deu um pique novo, afinal, ele vem de uma escola mais Glenn Tipton e Adrian Smith. Esse jeito dele equilibra com o do Glenn [Rogers, também guitarrista], que é mais thrash anos 80. Vai ser um disco pesado, brutal, técnico, mas vai ter um groove brasileiro que eu estou trazendo para as músicas. Acho que essas são algumas das melhores músicas já feitas pelo Hirax", garante o baterista. "Estamos fazendo a pré-produção entre 5 e 6 dias por semana, não tem descanso. Acho que vamos entrar em estúdio para gravar de fato em julho ou agosto."



Ravelli aproveita para esclarecer as notícias de que o guitarrista Glenn Rogers havia deixado o conjunto, como foi amplamente divulgado na internet. "O Glenn nunca saiu realmente da banda, como foi noticiado na imprensa. A verdade é que, naquela época, a banda estava passando por problemas e acabou havendo um grande mal-entendido, uma falha de comunicação mesmo", esclarece ele. "Desentendimentos em uma banda são normais, o problema é quando eles não são resolvidos internamente na hora em que acontecem. Aí, um fala uma coisa, outro fala outra coisa e acaba chegando na imprensa. Agora está tudo OK, estamos felizes e a comunicação está bem melhor. Não há problemas de ego. São apenas cinco músicos querendo o melhor para o grupo."



Um pouco antes da entrada de Raveli, o Hirax lançou um DVD intitulado Thrash 'Til Death que é tão tosco que chega a ser quase amador. "Eu não participei do DVD, ele foi feito com a formação anterior. E, concordo com você, ele realmente não tem boa qualidade, é muito tosco!", brinca o baterista. "Mas era isso que a banda queria... Quero dizer, não lançar algo tosco, mas algo bem verdadeiro, sem overdubs, é ao vivo mesmo. É tosqueira histórica, tipo From Enslavement To Obliteration [Napalm Death]. Porém, já estamos planejando gravar um DVD bem mais profissional, bem melhor elaborado. Será um documentário sobre a banda, com imagens raras. No momento, no entanto, ainda não temos uma data de lançamento agendada."



Ravelli garante também que existem muitas diferenças entre ser uma banda underground no Brasil e nos Estados Unidos. "Quando eu estava no Harppia, que é uma banda conhecida no Brasil, sempre enfrentava problemas de estrutura de palco nos shows, divulgação ruim, organização fraca. E não dá pra viver de música no Brasil. Já no Hirax, que não é uma banda grande, consigo viver só de música. O grupo é muito respeitado aqui nos EUA", garante ele. "Se o Harppia dos anos 80 vivesse nos EUA, certamente hoje em dia seria uma banda grande, pois, não fosse a cena oitentista, hoje em dia os americanos só ouviriam hip hop e rap."



Apesar disso, o baterista também tem suas reclamações quanto ao mercado norte-americano de música. "A MTV daqui é uma bosta, as garotas de 15 anos só pensam em colocar silicone nos peitos e há 20 bandas novas em cada esquina. A única vantagem é que nos shows do Hirax o público é diferente, tem gente de todas as idades", explica. "Os músicos precisam entender que eles é que podem fazer a diferença. Não me conformo que o Ratos de Porão, que é minha banda favorita, não tenha o reconhecimento que merece."

Apesar de todos os prós e contras, Ravelli não se arrepende de ter deixado o Brasil no final de 2005. "Foi a escolha mais difícil da minha vida. Deixei amigos, família. Um dia eu estava abrindo shows do U.D.O. e do Grave Digger no Brasil; no outro, eu era manobrista nos EUA. Eu não agüentava mais ver bandas que não tinham nada a ver com metal fazerem sucesso justamente no meio do público de metal. E esse pessoal sempre tinha melhor produção e muita mordomia", lamenta o músico. "Os fãs de metal precisam se conscientizar de que eles é que fazem a diferença. O Brasil tem o melhor público de metal do mundo, mas eu tive que tomar essa decisão para poder focar minha carreira em algo mais profissional."



No Brasil, Ravelli começou a tocar bateria aos 11 anos de idade. Em 99, integrou o Ancestral junto com Heros Trench, do Korzus. Depois, passou pelo Metallica Cover, Testament Cover, Sepultura Cover, Wasted Co. e pelo Vulghar. "Mas com quem trabalhei bastante foi mesmo com o Harppia", completa ele, que lembra como ouviu falar pela primeira vez do Hirax. "Eu sempre via o Shane Embury [Napalm Death] usando camiseta do Hirax e fiquei curioso. Certo dia, um amigo me mostrou um disco deles e pirei. O curioso é que, anos depois, fui num show do Napalm Death aqui nos EUA e o Shane estava usando a mesma camiseta!"



Pra finalizar a conversa, Ravelli dá sua impressão pessoal sobre o mercado norte-americano atual de heavy metal. "Eu estava falando com o Jeff Becerra [Possessed] exatamente sobre isso outro dia. O mercado aqui tinha tudo para melhorar, mas gente como Sharon Osbourne sempre estraga tudo quando paga mexicano pra jogar ovo no Iron Maiden [no Ozzfest de 2005]. Aquilo foi ridículo! Ela não está nem aí pra nada, adora armar barraco! E o metal aqui está indo nessa direção, não é levado a sério", lamenta ele. "Por outro lado, as bandas aqui são muito amigas. Você vai num show do Testament e encontra na platéia músicos do Sadus, do Hirax e do Nuclear Assault. Não espero uma cena como era nos anos 80, mas acho que pode ficar melhor do que está. O grande problema dos EUA não é musical, mas político. Esse George W. Bush é um dos caras mais ignorantes que já vi na vida."

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